DE QUE SÂO FEITOS OS DIAS

De que são feitos os dias?
-De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.

Deloucuras, de crimes,
de pecados, de glórias,
-do medo que encadeia
todas essas mudanças.

Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlances
e em sinistras alianças....

Cecília meireles

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Primeiro dia da Casa de Criadores traz homens de vestido e mulheres militares

Os destaques são João Pimenta e Ianire Soraluze, marcas jovens que se reformulam e criam fortes imagens de moda na passarela montada no Shopping Frei Caneca

Comece a se acostumar com imagens mais pesadas de looks de passarela: vem aí o inverno dark, que começou com a Casa de Criadores nessa segunda-feira, 8, e continua até dia 10 - seguido, em janeiro, pelo Fashion Rio e pelo SPFW.
Muito preto, mas muito mesmo, com variações de cinza, dominaram o primeiro dia - e devem continuar sendo a pauta na cartela de cores. Os melhores desfiles foram os de João Pimenta (para eles) e de Ianire Soraluze (para elas), por motivos bem diferentes.
Ianire, que concorreu no Prêmio Moda Brasil na categoria Estilista Revelação, decidiu repensar a imagem delicada e feminina das suas coleções passadas. A sua tática foi partir de um tema que normalmente ninguém imaginaria que ela pudesse mexer: o militarismo. À la cabala: ela mudou para continuar a mesma, com uma moda ultrafeminina, criativa, desejável, gostosa de ver. O uso do tricô, os casacos de manga curta, a sua versão de camuflado que na verdade é monocolorida e tem relevo em matelassê, as calças pata-de-elefante, o plastificado: tudo passa uma imagem chique (porém sem ostentação) e adulta (porém sem envelhecer).
Já Pimenta mais uma vez fez um desfile corajoso e de imagem fortíssima, daquelas que ficam rondando a cabeça. Sua premissa já era ousada: ele fez roupas estruturadas (à la Balenciaga) com o quadril grandão - só que para homens. Claro que o seu pai ou o seu chefe não vão sair por aí com essa nova silhueta, e nem é essa a intenção, mas o desfile é permeado de referências que conquistam. São imagens limpas como o estilista nunca conseguiu antes, e ao mesmo tempo marcantes. Na trilha sonora, e mesmo em alguns looks de maneira bem clara (como o com a calça gigante e suspensório segurando), a música circense mostrava referências a palhaços (por coincidência, o tema da coleção passada de Ianire!). Só preto e branco, transparências (nada a ver com uma transparência sexy, remetia mais à roupa de baixo do vovô), e o quadrilzão ali, incomodando tudo. Palhaçada? Antes, originalidade e sabor, liberdade para brincar. Homem de vestido e salto alto, e daí? A Casa de Criadores serve para provocar.
Outra que sabe provocar é a TudiCofusi. Cada vez mais afinados no questionamento sobre o que é brega e de mau gosto, eles desafiaram toda a crítica especializada deixando claro que não usaram modelista nem modelagem para as roupas: foi tudo experimentação. O resultado surpreende, cheio de peças com volumes exóticos, e a trilha também: sim, eles tocaram Raul. E prefereriram ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Mais que clichê: jato de água fresca em outras marcas que se preocupam demais em não errar - e acabam errando. Antes o desbunde!
Outras peças que merecem atenção: a calça pata-de-elefante e alguns vestidos de uma manga só de Rober Dognani (assim como a pulseira dourada de espetos, agressiva e rica), os drapeados de Dognani e da No Hay Banda (parentes do vestido bandagem de Hervé Léger), a saia de cintura alta em patchwork da No Hay Banda, a malha listrada em branco e vermelho de Phergom, as bolsas de Cristine An para João Pimenta, os sapatos de salto com couro enrrugadinho feito à mão da No Hay Banda e os tênis absolutamente incríveis da Swear London para TudiCofusi - a marca hype está chegando no Brasil!

Jorge Wakabara


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